domingo, 23 de agosto de 2015

Encher o vazio

Minhas queridas

Semana passada fiz uma reflexão, fruto do estudo que realizamos em grupo, sobre amor-próprio. Trata-se de uma deficiência psicológica que penso ter. Ainda não sei ao certo se trata-se do amor-próprio, da vaidade ou outra deficiência, mas registro aqui algumas reflexões preliminares.

No meu caso, manifesta-se quando falo algo apenas para aparentar que detenho um determinado conhecimento. Faço isso inadvertidamente. Um dia, incomodou-me pensar que talvez quem realmente sabe bastante sobre o assunto pudesse perceber que eu não sabia nada ou quase nada a respeito. Minha vaidade ferida foi meu alerta! Perguntei-me então por que eu estava agindo daquela forma. E quando me vi no espelho, notei que a mesma vaidade estava me movendo a falar, lançar pensamentos que não eram meus, pois nunca havia me aprofundado no tema das tais conversas. Fiquei no princípio chateada e com vergonha. Pensei em quantas vezes eu já teria feito aquilo, sem me dar conta, e que talvez as pessoas que me ouviram soubessem.

Ficar com vergonha não me levaria a lugar nenhum. Então, decidi aprender com esse erro. De que maneira devo então me conduzir quando não sei alguma coisa e me vejo em um grupo que conhece do assunto? Bem, posso fazer perguntas. Ou apenas escutar. Posso também simplesmente dizer que não sei, dependendo da receptividade com que meu desconhecimento seja encarado pelo grupo.

Procurei então no livro "Deficiências e Propensões do Ser Humano" alguma coisa ligada ao amor-próprio, que havia sido nosso tema de estudos da semana, com o objetivo de me aprofundar no tema. Seriam só essas as ferramentas para me conduzir melhor?

Encontrei na "Necedade" uma das chaves para deixar de incidir nesse erro: a "Prudência". Atuando como um freio interno, a prudência tem me permitido frear a manifestação desses pensamentos que não são meus, mas querem sair pela minha boca, querem se manifestar de alguma forma. Antes de falar, penso em quê pensamento está por trás. E, se for o amor-próprio querendo me vestir a máscara de possuir um saber que não detenho, paro e me recordo do prejuízo que me causou essa maneira de agir, e no mal estar que sinto ao me colocar nessas situações. Assim, consigo aos poucos frear esses pensamentos e ir me conduzindo de outra forma, mais leve e segura. Que bom poder dar passos mais firmes.

E é aí que vem o grande benefício dessa conduta! Como eu não percebia o vazio que na realidade tinha em mim, a falta de conhecimento sobre o assunto não me incomodava tanto. Eu enganava não só as outras pessoas, mas a mim mesma com a sensação de saber. Ao mudar de atitude, o vazio desse conhecimento fica me incomodando, levando-me a buscar saber mais a respeito. Pesquiso então o assunto e preencho de fato esse vazio, o que me deixa mais segura para me manifestar em uma próxima ocasião.

Onde antes havia duas perdas (a falta do saber e o sofrimento da vaidade ferida), agora tenho dois ganhos: sentir vontade de aprender o que me falta e, ao fazê-lo, conduzir-me com mais segurança.

Fico muito grata por ter alcançado esse entendimento. Espero que possam se beneficiar disso como eu me beneficiei!

Um beijo enorme

Mamãe

Obs: Um aspecto interessante dessas reflexões foi ter me recordado de quando isso se iniciou. Em algum momento da minha infância, recordo-me em "flashes" que falei, sem saber, alguma coisa que todos ficaram surpresos que eu sabia. Fizeram algum elogio e eu recordo-me de ter passado pela minha mente um pensamento de que eu poderia de vez em quando improvisar e lançar um entendimento qualquer para ver se "colava", pois isso surpreenderia os adultos. Já era uma manifestação da vaidade em mim, ou do amor-próprio, querendo fazer com que eu parecesse, para os outros e para mim mesma, mais do que de fato era.