Querida filha mais velha
Escrevo isso mais pra você do que pra sua irmã mais nova. Algo me diz que você talvez precise disso e ela não. Em parte por características pessoais de vocês, em parte por quem eu era no momento em que cada uma de vocês nasceu.
Contigo tive muitos medos e inseguranças. Você foi a primeira e isso tem um quê de cobaia... Irmãos mais velhos normalmente são vistos como privilegiados, pois por um período foram os "reis" da casa, enquanto os irmãos mais novos chegaram já com a casa cheia. Não vejo dessa forma. Pais que já foram pais são melhores do que pais de primeira viagem. Melhores não nos aspectos práticos, pois no primeiro filho tomamos mais cuidado com tudo. Não é isso. Mas são pais mais seguros, mais calmos, mais auto confiantes. E isso faz bem ao filho. Portanto, nesse quesito, segundos, terceiros e demais filhos saem ganhando. Recebem uma educação e um afeto mais sólidos, fundamentados. Isso afeta o caráter. Minhas inseguranças e medos podem ter afetado o seu. É uma impressão.
Você é uma menina muito alegre, cheia de vida, preocupada com o nosso bem estar, destemida, boa (não vê o mal, nem o procura, está sempre com a cara limpa, a mente limpa, exceto quando faz pirraça, rs...). Isso é a sua essência. O que for contra isso, não é seu e, portanto, você deve conhecer a origem, a causa, para poder eliminar.
Ultimamente tenho pensado muito em orientar você sobre amar a si mesma. O último blog, ironicamente, era sobre "amor próprio", que não é o amor a si mesma de que vou tratar aqui.
Amar a si mesma é se respeitar, conhecer a si mesma, saber seus limites, fazer coisas boas por você e, sendo capaz disso, fazer também para outras pessoas. Isso requer conhecimentos que não são os comuns. São conhecimentos que transcendem a vida cotidiana, o físico, o externo. É um olhar "pra dentro". É se fazer perguntas como:
- Que pensamentos atuam na minha mente?
- Quais pensamentos são "meus" e quais são "alheios"?
- Por que os deixo atuar mesmo à margem da minha própria vontade?
- Que sentimentos me guiam, mesmo quando parece que eu não tenho explicação para certos acontecimentos?
- Que instintos atuaram e me moveram à margem das minhas vontades, seja para o meu bem, seja para o mal?
E, enfim, as perguntas que vêm há séculos inquietando mentes e corações:
- Quem sou eu?
- Qual o meu destino? Ou
- O que vim fazer nesse planeta?
Busque responder a essas perguntas. É possível. Faça isso tornando-se docente de si mesma. Assim, poderá ajudar outros a fazer o mesmo e a responder essas mesmas perguntas, e outras mais.
Fazer o bem é um processo de aprendizado em que você vai sempre ganhar mais do que o beneficiário de suas ações. Pois você estará se capacitando. O maior bem que se pode fazer é colaborar de forma consciente na capacitação de outra pessoa.
O conhecimento é como a luz de uma vela que cada um carrega consigo. Acender a vela de outra pessoa com a luz da sua não diminui sua luz; só aumenta a claridade no ambiente. E todos passam a ver melhor.
E o que isso tem a ver com amar a si mesma?
Muitas pessoas vão se aproximar de você. Pessoas que te amam de verdade. E pessoas que querem se aproveitar de você. Pessoas que acham que te amam, mas na verdade querem te "possuir", te "comandar". Amigos e inimigos. Nenhum deles poderá te dizer com certeza o que você deve fazer, como você deve se conduzir. Os mais confiáveis são os que te amam de verdade. Nesse grupo com certeza estão teus pais, avós e irmãos, ainda que tenham muitos defeitos. Não se engane, você também os tem e isso afeta como vê as pessoas. Mas, todos nós temos limitações: pais, avós, primos, irmãos, tios... Alguns mais, outros menos. Limitações de conhecimentos transcendentes, os que você precisa pra fazer boas decisões e realizar esse processo de auto-conhecimento. E ninguém vai te conhecer tão bem como você mesma. Embora algumas vezes os teus pais possam conhecer aspectos sobre você que nem você viu ainda.
Esteja atenta a isso. De quem estão vindo os conselhos que você costuma ouvir com mais atenção? São pessoas que te amam de verdade? Você confia nessas pessoas? Elas te inspiram confiança? Se você tivesse um filho, ia deixar essa pessoa orientá-lo como está orientando você?
Quem ama de verdade pode errar também. Mas, se souber o que está fazendo, em lugar de te criticar jogando na sua cara os seus defeitos, vai se esforçar em fazer você ver por conta própria o que você precisa melhorar. Vai ensinar. Educar. Terá paciência pra conviver com teus defeitos até que eles se transformem por conta do teu esforço consciente, não de um puxão de orelha.
Saber em quem confiar, saber distinguir o verdadeiro amor do falso, é parte desse caminho de amar a si mesma.
No meu caminho encontrei pessoas que me usaram, que tinham angústias e me levaram junto por esse caminho sem que eu tivesse nenhum problema que o justificasse (não que algum o justifique), e que me levaram a cometer erros e faltas principalmente contra mim mesma. Perdi tempo de convivência com minha família, perdi tempo que poderia ter dedicado a mim mesma.
Não perca tempo. Perder tempo é perder vida. Abrace a vida com ternura, mas com a firmeza de quem não quer perdê-la de jeito nenhum. Aproveite os momentos. Faça amigos, corra, nade, dê risadas, saiba os tempos certos de sofrer e de ser feliz, ame e não tenha medo de se questionar se ama mesmo, nem de se responder um redondo "não" depois de anos com a mesma pessoa. Enfim... Seja alguém em quem você mesma possa confiar: seja verdadeira consigo mesma.
Você terá muitos amigos se for o que as pessoas chamam de uma pessoa "autêntica". Não é no sentido comum que digo isso, de ser você mesma sempre e os outros que te aguentem. Não é isso. É ser, sim, natural pois você estará sendo você mesma, atuando sem agredir seus princípios e valores. Isso também não é o mesmo que ser transparente. Não. Há coisas que você não deve expor sobre você mesma pra ninguém. Ninguém mesmo. Algumas intimidades dos nossos pensamentos e sentimentos podem até se manifestar indiretamente, mas não podem ser expostos para comentários, ideias, análises externas, críticas, etc. Isso é discrição com você mesma. É parte desse amor a si própria. Resguarde-se. Isso não é deixar de ser verdadeiro. É resguardar-se. E isso é bom.
Por fim, de nada adianta cuidar da mente e do coração se seu corpo for negligenciado. Ame seu corpo, sua saúde física. Não use nem deixe que outros o façam de forma inadequada. Faça exercícios, alimente-se de forma consciente (se for preciso, procure um nutricionista que te ensine como se alimentar de forma saudável), procure dermatologistas que te ajudem a manter uma pele bonita; mantenha seu corpo, seu cartão de visitas para o mundo, um reflexo do seu interno: belo e saudável.
Beijos da sua mãe que te ama muito.
PS: Ouça sempre seu pai, que é um grande homem, e sua irmã mais nova, que também te ama <3
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